03/04/2010

INDIVISÍVEIS



O meu primeiro amor sentávamos numa pedra
Que havia num terreno baldio entre as nossas casas.
Falávamos de coisas bobas,
Isto é, que a gente grande achava bobas
Como qualquer troca de confidências entre crianças
de cinco anos.


Crianças...
Parecia que entre um e outro nem havia ainda separação de sexos
A não ser o azul imenso dos olhos dela,
Olhos que eu não encontrava em ninguém mais,
Nem no cachorro e no gato da casa,
Que tinham apenas a mesma fidelidade sem compromisso
E a mesma animal - ou celestial - inocência,
Porque o azul dos olhos dela tornava mais azul o céu:
Não, não importava as coisas bobas que disséssemos
Éramos um desejo de estar perto, tão perto
Que não havia ali apenas duas encantadas criaturas
Mas um único amor sentado sobre uma tosca pedra,
Enquanto a gente grande passava, caçoava, ria-se, não sabia
Que eles levariam procurando uma coisa assim
por toda a sua vida...


Mário Quintana


* Quando eu era criança tinha a mania de ler livros e escrever nos meus cadernos de escola as poesias que mais me chamavam a atenção. A maioria falava sobre amor, sempre foi o meu assunto favorito. Num daqueles momentos em que me dá súbita vontade de fazer faxina pela casa, encontrei um caderno velho e empueirado cheio dessas poesias. Amo esse texto.

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